Resenha: A Sereia - Kiera Cass

Nome: A Sereia
Autor (a): Kiera Cass
Editora: Seguinte
Sinopse: Anos atrás, Kahlen foi salva de um naufrágio pela própria Água. Para pagar sua dívida, a garota se tornou uma sereia e, durante cem anos, precisa usar sua voz para atrair as pessoas para se afogarem no mar. Kahlen está decidida a cumprir sua sentença à risca, até que ela conhece Akinli. Lindo, carinhoso e gentil, o garoto é tudo o que Kahlen sempre sonhou. Apesar de não poderem conversar pois a voz da sereia é fatal , logo surge uma conexão intensa entre os dois. É contra as regras se apaixonar por um humano, e se a Água descobrir, Kahlen será obrigada a abandonar Akinli para sempre. Mas pela primeira vez em muitos anos de obediência, ela está determinada a seguir seu coração.
SubmarinoSkoob | Amazon | 328 páginas | 3,5/5



Como Stephenie Meyer fez com os vampiros em Crepúsculo, Kiera Cass recriou o mito das sereias. A beleza mortal e a tão famosa voz hipnotizante continuam, mas autora colocou esses seres místicos sob uma totalmente nova perspectiva. Ao invés de criaturas insensíveis e vorazes, as sereias são servas da Água, uma divindade com consciência e sentimentos que é a própria água do mar que precisa delas para alimentá-La. Usando o canto, elas naufragam navios e a água mata os tripulantes afogados, como uma forma de oferenda. Caso a água não seja alimentada, ela fica faminta (e mau humorada como um tio cachaceiro nojento) e causa desastres que chamamos de naturais - e é por causa dessa consequência que a Água cria as sereias e, mesmo sofrendo com cada morte que causam, as criaturas cantam para alimentar a água. "Troque uma vida por um milhão." é o que diz a canção que elas usam para hipnotizar as pessoas.
Além de não serem sem sentimentos e não enfeitiçarem apenas homens, elas não têm a parte peixe ou têm cabeça de aves, como nas lendas gregas, e nem são incrivelmente fúteis que só pensam em pentear os cabelos - Kahlen, a protagonista, na verdade é um leitora assídua.

Venha, lance o coração ao mar.

Sua alma se perde para outras salvar.
Beba-me até a exaustão.
Troque uma vida por um milhão.
Venha logo, beba sim.
Beba e afunde até o fim.
Beba e afunde até o fim.
Você deixa de ser, para ser mais;
Todos precisam descansar em paz.
Entregue-se à Água com bravura,
Deixe o mar ser sua sepultura.
Venha logo, beba sim.
Beba e afunde até o fim.
Beba e afunde até o fim. 

As sereias são jovens que a própria Água resgata do mar e transforma-as em troca de 100 anos de servidão. Elas são capazes de nadar por horas sem cansar, não se machucam, não envelhecem, não precisam comer ou dormir e têm vestidos lindos feitos de sal. Podem se relacionar com humanos, mas é preferível que não o faça para que não criem laços - e é aí que a nossa protagonista se ferra bonito.
Resgatada do naufrágio em que toda sua família foi morta, Kahlen já servia há oitenta anos a Água quando a história realmente começa. Mais reservada que suas irmãs sereias, gosta de passar o dia lendo na biblioteca ou embaixo de uma árvore no campus da universidade perto de sua casa em Miami. Ela era a que mais sofria com as mortes que tinha que causar e sempre estava triste e temerosa do próximo canto (quando as sereias atendiam ao chamado da Água para afundar uma embarcação).

Eu compreendia a repulsa dela. Ela via minhas cadernetas como uma obsessão insana pelas pessoas que tínhamos assassinado. O que eu queria era que ela compreendesse como aquelas pessoas me assombravam, como seus gritos permaneciam comigo muito tempo depois de os navios afundarem. Saber que Melinda Bernard tinha uma vasta coleção de bonecas ou que Jordan Cammers estava no primeiro ano de medicina aliviava minha dor. Era como se saber mais sobre a vida do que sobre a morte deles tornasse as coisas melhores de alguma forma.


É aí que ela conhece Akinli, um garoto doce, tagarela, que é o primeiro a se aproximar dela por curiosidade, não por causa de sua beleza sobrenatural. Kahlen fica encantada com o garoto fofo que não liga para sua condição de "não falante" (se uma sereia fala, o que sai é o canto e a pessoa (s) que ouvir sai em disparada para se entregar ao mar). Depois de mais um encontro aleatório, eles têm um encontro de verdade e, no fim da noite, ela percebe que está se apaixonando e foge (segura o clichê aí).
Tá, Akinli é um fofo, eles dois são bem shippáveis juntos, mas a autora inventou que eles tinham que ser almas gêmeas e eles se encontraram apenas quatro vezes antes de Kahlen decretar que ele é o único homem pra ela, que ela faria de tudo por ele e etc (acredite, isso não é um spoiler, você percebe que isso vai acontecer de primeira). Quatro vezes! E um deles foi depois de meses do anterior. Esse fato era muito importante pra história, mas fazer quatro encontros super fofos e amorzinhos criar um amor eterno e inabalável não deu certo (eu sou uma fangirl terrível, shippo com facilidade monstra, então acredite quando eu digo que não convenceu tão bem).

— Você parece estressada. Uma festa cairia bem.
Não consegui segurar um sorrisinho. Ele não fazia ideia. Infelizmente, ele tomou o sorriso como um convite para prosseguir.
Ele passou a mão no cabelo, o equivalente moderno para o “Bom dia, senhorita” e apontou para os livros.
— Minha mãe diz que o segredo para preparar bolos é usar uma travessa aquecida. Não que eu saiba. Mal consigo preparar uma tigela de cereal.

Não bastasse esse fato no relacionamento bem revirador de olhos, a Água, que foi a coisa mais legal do livro, uma forma totalmente diferente de entender as sereias, ficou inatendível. Ela é uma força imensa, quase que totalmente responsável pela vida na Terra, que tem que ser alimentada ou então, Puff!, acabou vida terrestre, e a forma que Ela encontrou para equilibrar isso foram as sereias. Até aí tudo bem, tudo incrível, tudo criativo e fascinante, mas Ela ama as sereias, as trata como filhas, cuida com todo o zelo do mundo. Mas cometeu um erro, já era a coitada da sereia. Que dizer, Ela não tem piedade, não dá segundas chances, mas ama? Como? Isso, o porquê, a autora não conseguiu explicar e até agora estou bem confusa com a relação Água/sereias.
As irmãs sereias da Kahlen foram até que bem apresentadas, mas não me apeguei a nenhuma. A saudade dela por Akinli e seus sentimentos ambíguos pela Água ocuparam quase que a história toda e só nos deu mais das companheiras de canto da Kahlen nas páginas finais. Ou seja, você começa a gostar delas e, ops, acabou o livro. Uma pena, já que elas tinham grande potencial - até mesmo para spin-offs delas (que ideia boa, podem apresentar à Kiera que eu deixo ^^).
Quanto às mensagens do livro, elas são lindas. É uma exploração total do amor: do de mãe, de irmã e do de homem-mulher. Fala sobre o cuidado da natureza, da perda, da solidão e da confusão que é o amor.

Sempre há espaço para o amor. Mesmo que seja pequeno como uma fresta na porta.

A Sereia tinha um potencial enorme, Kiera Cass foi muito criativa na reformulação da lenda milenar das sereias, criou Akinli para ser o par perfeito da Kahlen e fez as irmãs da protagonista bem diferentes e "gostáveis" mas pecou ao não explorar bem os pontos mais importantes da história. Depois do sucesso de A Seleção, minhas esperanças com esse livro era que ela não cometesse os mesmos erros que em sua série best-seller, mas ela, infelizmente, decepcionou. Não é de todo ruim, é um bom livro para ler num dia entediante, que vai fazer você genuinamente amar o Akinli e achar a Água a lenda mais incrível, mas não diria que ele vai ficar gasto de tanto ser relido. Para passar o tempo? Sim. Para criar um fandom? Não.