CAPÍTULO NOVE
Tradução e revisão por Carmen M. Souza no Praticamente Única
A água se infiltra no fundo do carro, suja e gelada, molhando os sapatos de Xu Qin.
Xu Qin agacha-se no banco e disca 119, repetindo o que acabou de dizer, e acrescenta: “O carro está deslizando em direção ao fundo da ponte e começando a encher de água. Pode levar apenas quatro minutos para inundar.”
“Ok, temos bombeiros perto de sua localização e eles já foram notificados. Por favor, mantenha seu telefone disponível e aguente um pouco mais!”
“Obrigada.” Xu Qin desliga o telefone, sentindo que é inexplicavelmente difícil respirar. Ela abaixa a cabeça e abraça as pernas, permitindo-se se acalmar por um segundo.
A água inunda os assentos. Xu Qin rapidamente olha ao redor do carro, mas não consegue encontrar nada afiado, e é inútil pedir ajuda. O vento e a chuva estão muito altos, ninguém seria capaz de ouvi-la. Ela liga algumas vezes, mas ninguém atende – não tem mais o que fazer.
À medida que o carro desliza para baixo da ponte, pouco a pouco, as luzes da rua gradualmente mudam e, em um instante, o carro desaparece na escuridão.
A água rapidamente chega à cintura de Xu Qin, e o espaço dentro do carro fica cada vez menor. A chuva desce, a correnteza aumenta e o nível da água dentro e fora do carro sobe ao mesmo tempo.
A chuva torrencial estala contra o teto e as janelas do carro, como se alguém estivesse sacudindo violentamente essa prisão confinada.
Xu Qin acha o número de Meng Yanchen em seu telefone e está prestes a fazer uma ligação quando a frente do carro balança para baixo, de repente acelerando e deslizando para o fundo da ponte. Xu Qin imediatamente sobe no banco de trás. O corpo do carro balança e sacode, aparentemente se afastando do chão e flutuando na água.
O coração de Xu Qin afunda, percebendo que isso é um sinal de afundamento rápido.
Ela bate na janela do carro: “Socorro!”
“Socorro!”
O som do vento e da chuva abafa tudo.
No meio da noite, enquanto a tempestade torrencial se alastra, toda a cidade está prestes a ficar paralisada. Em suas inúmeras esquinas, parece que inúmeras pessoas estão sendo esquecidas.
Ela está isolada nesta caixa grande, escura e hermética. As janelas estão cobertas de chuva, o mundo lá fora está embaçado, e está tão escuro que ela não consegue ver nada claramente.
A água dentro do carro está ficando cada vez mais alta, submergindo quase todas as janelas. Xu Qin repetidamente bate no vidro. De repente, uma lanterna brilha. Ela grita por ajuda e a luz se aproxima cada vez mais. Imediatamente, uma grande palma masculina bate contra a janela do carro, que estava claramente refletida na cortina de chuva através do vidro.
Com a ajuda da lanterna, Xu Qin vê que suas mangas são laranja - é um bombeiro.
“Socorro!” Xu Qin bate com a palma da mão no vidro.
A pessoa acerta rapidamente a janela do carro com um martelo de resgate, mas as rodas do carro já estão fora do chão e não podem ser estabilizadas. Quando o martelo desce, o carro de repente gira na água e vai para as profundezas.
Xu Qin rola do assento e cai na água, incapaz de controlar seu centro de gravidade por um momento. Seus pés não conseguem tocar o fundo. A carcaça do carro gira, ela tropeça na água e engasga com alguns goles da água da chuva. Com grande dificuldade, ela luta para segurar o assento do carro e flutuar até o topo, colocando a cabeça para fora da água. Esse espaço contém todo o ar restante.
Ela está tonta e cerra os dentes de dor.
O carro para de repente e se acomoda no lugar, como se tivesse atingido um obstáculo.
Xu Qin respira fundo. Através da chuva forte no pára-brisa, ela vê uma figura laranja alta na frente. O homem está agachado, agarrando o para-choque com as próprias mãos, bloqueando o carro com o próprio corpo, impedindo-o de deslizar mais para frente.
Apoie meu trabalho clicando em alguma pro pa gan da
O homem para por um momento como se estivesse ganhando força e depois começa a empurrar lentamente o carro pela encosta.
O carro flutua na água, movendo-se para trás. Logo as rodas descem de volta ao chão. A chuva torrencial está caindo e o nível da água está muito mais alto do que antes. Quando o carro bate no chão, de repente fica travado.
Xu Qin está presa no carro, seu corpo encharcado tremendo na água. Ela está com medo, e o medo resultou da incerteza – ela não tem certeza se o bombeiro ainda pode empurrar. Ele parece parar por um segundo e, no momento seguinte, o carro milagrosamente recua pela encosta. No entanto, o nível de água no carro ainda não está diminuindo.
O homem empurra o carro centímetro por centímetro, o coração de Xu Qin está pendurado, caindo lentamente a cada passo. De repente, por trás, outro carro é trazido pela chuva e bate no carro de Xu Qin.
Com um estrondo, tanto o carro quanto a pessoa rapidamente deslizam pela encosta juntos!
A água se derrama no carro e enche o nariz e a boca de Xu Qin. O espaço dentro do carro encolhe rapidamente. Xu Qin luta na água sem parar, tentando ao máximo ficar perto do teto do carro para evitar que a água entre em seu nariz e boca, mas o carro afunda rapidamente nas profundezas sob a ação da inércia.
Durante a turbulência, a ponta do nariz de Xu Qin toca o teto do carro e não há mais espaço. Ela ofega bruscamente, um gemido doloroso transbordando de sua garganta, pensando não haver mais esperança, mas a trajetória deslizante do carro é interrompida novamente.
O homem ainda está teimosamente bloqueando o carro no meio da torrente.
Seus pés estão empurrando contra o chão, sua cabeça está profundamente abaixada, seu corpo inteiro está dobrado em forma de arco, debruçado contra o para-choque do carro. O peso de dois carros repousa sobre ele, forçando-o a se enrolar na frente do carro imóvel. Não muito atrás dele está o redemoinho do esgoto, e ele para na água turbulenta por dez segundos sem se mover, recuperando sua força. O nível da água está subindo pouco a pouco.
O ar está ficando cada vez mais rarefeito.
Xu Qin permanece imóvel no carro, levanta a cabeça e sente a água fria fluindo sobre suas orelhas, rastejando lentamente pelo rosto, coçando, estreitando a área para o nariz e a boca.
Ela sabe que o bombeiro do lado de fora esgotou todas as suas forças. Ela não o culpa, nem o destino. Ela não se se sente nem triste, nem feliz, só um pouco arrependida.
A água se espalha para os cantos dos olhos, varrendo e submerge seus olhos, nariz e boca.
No segundo seguinte, o homem do lado de fora geme ferozmente e, de repente, explode em um rugido estrondoso: “AHHH!!” O rugido ecoa no fundo da ponte.
Xu Qin treme por toda parte, e o carro inesperadamente começa a se mover para trás novamente, pouco a pouco. É extremamente desafiador e lento recuar contra a corrente de água na encosta!
Os olhos de Xu Qin estão molhados.
A sombra do homem na chuva é inabalável, sua respiração anormalmente dolorosa e arquejos ressoam no fundo da ponte.
Ainda assim, o carro é empurrado de debaixo da ponte. A chuva torrencial cobre o céu e abafa sua voz.
O nível de água no carro finalmente começa a cair, a água borbulhando das aberturas do carro como uma lata de refrigerante com um buraco.
A cabeça rígida e levantada de Xu Qin abaixa lentamente. Ela ofega profundamente seguidas vezes, ainda não se atrevendo a acreditar em sua sorte.
O homem não para por um momento, cerrando os dentes. Com pressa, ele empurra o carro para a encosta. Uma vez que o corpo do carro está completamente fora da água, ele rapidamente pula no capô e quebra o pára-brisa com um martelo de resgate. A teia da aranha explode no vidro e a chuva se acumula nas rachaduras. Depois de esmagá-lo mais de dez vezes, um buraco se quebra no vidro.
Neste momento, o carro deslizou para baixo novamente.
Ele rapidamente chuta o buraco e o vidro se quebra em pedaços.
Ele enfia a mão no carro e grita: “Venha aqui!”
A pele do braço está vermelha e os vasos sanguíneos estão estourados. Xu Qin sobe para o banco de trás e se projeta para agarrar a mão grande.
O homem estende a outra mão para proteger a cabeça dela, exercendo sua força e levantando Xu Qin através do buraco de vidro quebrado. Os estilhaços deixam três cortes manchados de sangue em seu braço.
Apoie meu trabalho clicando em alguma pro pa gan da
Xu Qin termina de ser puxada por ele. Antes que ela possa olhar para o rosto dele, o carro atrás os atinge novamente, seu carro cambaleia e de repente começa a deslizar em direção ao fundo da ponte.
Xu Qin é pega desprevenida e bate contra o peito do homem, caindo em seus braços.
Os ombros do homem são extraordinariamente largos e seu peito é firme e poderoso. Vibrando violentamente por exercer sua força, ele tem uma força masculina característica e dá a sensação de segurança.
Xu Qin está em choque e inconscientemente abraça seu salvador com força.
O corpo dele fica visivelmente rígido.
Através da chuva gelada, o corpo do homem está quente e seus músculos são suaves. Xu Qin pode sentir o cheiro de chuva e suor em seu corpo, explodindo com um cheiro masculino.
Ela sente a rigidez dele, e a sensação inexplicável que ela tinha no carro fica mais clara agora. A chuva enche o céu, Xu Qin levanta lentamente a cabeça e vê que o cabelo preto de Song Yan está molhado. Seus olhos estão especialmente brilhantes na noite escura, a fitando.
Era mesmo ele.
O rosto de Xu Qin está pálido: “Por que é você?”
“Não houve escolha.” Song Yan diz.
Xu Qin: “Eu não quis dizer isso.”
Song Yan pula do capô do carro.
Xu Qin pergunta: “Você estava por perto? Por que você é o único aqui?”
Song Yan não olha para trás, seu temperamento está extremamente ruim: “Você sabe quantos carros tiveram acidentes em um raio de cinco quilômetros em uma hora? Tem a porra de aviso vermelho de tempestade e você decidiu sair! Por que está correndo por aí?”
Ele caminha em direção ao carro de trás, bate no vidro, limpa a água da chuva do vidro e olha para dentro: “Alguém aí?”
Ninguém responde.
Song Yan acende a lanterna e aponta para o interior do carro. Está cheio de água, com travesseiros, lenços e outros detritos boiando. Não há ninguém lá dentro.
O carro de Xu Qin ainda está deslizando em direção ao fundo. Song Yan certifica-se de que não há ninguém no carro antes de retornar rapidamente para as águas mais profundas e carregar Xu Qin para fora do capô da frente do carro.
Ele a carrega para o raso, com a mandíbula apertada, e não diz uma única palavra.
Xu Qin se inclina em seus braços, e a mão esquerda que está apoiada em seu ombro inconscientemente agarra sua gola. Com esse aperto, as pontas dos dedos dela tocam a pele nua exposta do pescoço dele, molhada e escaldante, a artéria latejando vigorosamente.
“Solta.” Sua voz impaciente vem de cima.
Xu Qin ergue os olhos para olhar para ele. Sua testa está ligeiramente franzida, seus olhos brilhantes sob suas sobrancelhas olham para frente.
Xu Qin não se move.
Song Yan finalmente olha para ela com uma expressão bastante feia: “Acredite ou não, vou te soltar na água.”
Xu Qin olha para ele e sabe que, com seu temperamento, ele realmente a jogaria. Mas ela também espera que haja 1% de possibilidade de que ele não possa suportar isso, que ele não possa soltá-la. Então ela apenas olha diretamente para ele, mas não tira a mão.
Sob as luzes fracas da rua, seu rosto é nitidamente definido.
Através da cortina de chuva, ela o vê puxar o canto de seus lábios muito levemente, com um tom de sarcasmo e aversão.
No segundo seguinte, Song Yan realmente a solta na água.
Mais precisamente, a joga.
Plop!, um grande esguicho de água sobe.
Não importa se a água espirra em seu rosto, ela já está encharcada de qualquer maneira.
Mas o vento sopra e está extremamente frio.